quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sandro Jamir Erzinger - Solidão




O som do badalar do relógio da torre avisava que eram seis horas e Jamir preparava-se para deixar o escritório sem o menor cuidado de verificar se havia deixado alguma anotação importante sobre a mesa ou não, afinal cessara o seu expediente e a semana e não mais suportava olhar para a sua mesa.Ao sair da empresa nem mesmo esperou o elevador, rapidamente desceu pela escadaria de incêndio, afinal o que eram algumas dezenas de lances de escada para quem trabalhava durante todo o dia sentado? -indagou Jamir para si mesmo.
Na rua as pessoas pareciam caminhar cabisbaixas, mas para Jamir isso pouco importava, pois como se já não bastasse as contas pra pagar, a constante desvalorização da moeda que preocupava-lhe constantemente,teria que ir de ônibus para casa pois o conserto de seu carro não havia ficado pronto para o fim de semana. Após enfrentar um coletivo lotado de pessoas, que cutucavam-se mutuamente a procura de banco para sentar-se, finalmente chegara à seu destino.
Ao abrir a porta de seu pequeno apartamento olhou por alguns segundos a bagunça, pois a louça suja sobre a pia da cozinha os inúmeros litros de bebidas espalhados pelos cantos, juntamente com a roupa suja, denotavam um claro abandono, mas nada disso preocupava-lhe ,pois por que? Usar de capricho em seu dia a dia, se a sua vida estava uma bosta mesmo.
Após trocar de roupa, encheu um copo de conhaque, pegou uma carteira de cigarros e sentou-se em frente à sua máquina de escrever, mas não vinha-lhe nem mesmo uma sílaba dos poemas ou contos que costumava escrever quando sentia-se muito só ou chateado. Então, levantando-se abruptamente da cadeira começou a quebrar tudo o que encontrava a sua frente, pois o único sentimento presente em seu espírito era revolta; trabalhar para uma empresa da qual não gostava,o dinheiro estava fraco e pra ajudar havia perdido sua namorada a poucos dias atrás.Depois de quebrar um quadro de pintura abstrata que havia ganhado de um amigo seu, voltou a sentar-se em frente à sua máquina de escrever, para então abrir uma gaveta a sua direita, retirando em seguida uma seringa juntamente com ampolas de morfina e sem hesitar encheu a seringa com uma dose suficientemente letal para qualquer ser humano,injetando em seguida em sua veia braquial. Não demorou muito para sua visão tornar-se turva e lentamente deitou a cabeça sobre a máquina, deixando em seguida a seringa cair-lhe da mão, passaram-se alguns segundos e tudo voltou a ser silêncio.

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